Há uns dois anos, escutei um
chamado de uma moça chamada Seashell. Achei estranho alguém ter um nome assim,
mas eu a ouvia me chamar todos os dias. Ela queria me contar alguma coisa. Mas
tudo que me dizia era seu nome.
Até que um dia, sentei-me à
frente do computador e digitei S-E-A-S-H-E-L-L. De repente, ouvi mais coisas.
Seashell era um pseudônimo, na verdade se chamava Seraphine e era uma
dançarina. Foi aí que surgiram os primeiros parágrafos do livro que finalizei
no ano passado, chamado “La Lune”.
"Loh, você escreveu um livro?”
Sim! Escrevi. Parece uma parte daquele ditado “Escreva um livro, plante uma
árvore e tenha um filho”. Bem, eu escrevi um livro. Que venha a árvore e os
filhos (nessa ordem).
Estou organizando sua publicação desde o
início do ano. Publicar e, além disso, no Brasil, ainda é muito complicado.
Enviei meus originais a aproximadamente 9 editoras. Uma respondeu e me cobrou
um absurdo pela publicação – cujos exemplares eu teria que me virar pra vender. Mas agora, com a ajuda da Editora Multifoco, sob demanda, posso dizer que em breve, “La Lune” estará vivo, em papel e
tinta, nas mãos de vocês.
Enquanto esse momento não chega,
você está ai se perguntando do que se trata, certo? Bem, em breve resumo,
resenhando meu próprio livro, “La Lune” traz Seraphine Seashell, uma jovem
dançarina em um clube noturno, cujo dono, Adrian, é seu único amigo na cidade
de Downville. Tendo um passado nebuloso, Seraphine e Adrian são ligados por uma
relação incerta que por vezes os aproxima como irmãos, outras, como algo mais –
que nenhum dos dois compreende totalmente.
Isso até a chegada de Ian, um
simpático rapaz de olhos verdes quase transparentes e cabelos quase brancos,
que se torna vizinho de Seraphine. E entre uma xícara de café e outra no
apartamento ao lado, Seraphine começa a questionar suas motivações, sua vida e
sua relação com Adrian, que nunca se define. E começa a pensar que talvez o
famoso Clube La Lune não seja seu lugar.
Inicia-se, assim, a jornada de
Seraphine em busca de sua identidade, da descoberta de seus sentimentos e de
segredos que ela jamais pensou que existissem. Tudo isso envolto pela aura de fantasia
e ilusão da dança de “Seashell”, nas noites do Clube La Lune.
Dito isso, disponibilizo agora o
primeiro capítulo da história que ela me contou, só porque quero deixá-los
curiosos!
Capítulo 1
Abrem– se as Cortinas
Seashell
estava pronta.
Em
frente ao espelho, ela terminava de retocar a pesada maquiagem que usava todas
as noites no Clube La Lune. Os olhos cor– de– mel ficavam vivos sob o
delineador preto. Ela seguia com cuidado as linhas dos olhos, com certa
rapidez, pela experiência.
Enquanto
rosqueava a tampa do delineador, dava uma última olhada no batom vermelho–sangue
que seus lábios cheios traziam. “Quase pronta”,
pensou. Jogou os cabelos castanhos para trás numa trança longa e decorada com
flores vermelhas. Interpretava uma espanhola esta noite. Batidas na porta.
– Dez
minutos, Shelly! – ouviu uma voz do lado de fora.
– Quase
pronta! – respondeu, agora puxando um pouco o corset preto sobre o vestido
vermelho solto e brilhante que usava. A pele branca se destacava em meio ao
vermelho e o negro. Era por isso que Adrian, gerente do La Lune e seu grande
amigo, assim que ela começou a trabalhar lá, passou a chamá–la de Seashell, não
só pela brancura e delicadeza de sua pele, mas também por que ela era muito
reservada. Não se via muito aquela garota andando nos corredores, ou saindo com
os colegas. Ela estava sempre só, em sua própria concha.
E também
porque uma dançarina não podia atender simplesmente por Seraphine.
Seashell
saiu do camarim exalando um perfume doce, entorpecente, e Adrian seguia em seu
encalço.
– Shelly,
tem planos para depois do show? – perguntou, seguindo os passos apressados
dela, o toc–toc dos sapatos de salto ecoando no corredor para o palco.
Ela
apenas olhou para ele.
– Eu
estava pensando... Se estiver com fome, podemos jantar juntos, hoje. O que
acha?
– Ah...
Desculpe, mas estou cansada, Adrian. Como alguma coisa em casa, mesmo. – disse
ela, sem olhar para ele. – Se não se importa, tenho uma coreografia para
apresentar agora.
Adrian
parou à porta da entrada para o palco.
– Sim,
claro. Bobagem a minha... Boa sorte! – mas Seashell já tinha ido para o palco.
Quando
os pés de Seashell tocavam o palco do La Lune, o clube noturno mais frequentado
de Downville, as luzes se reduziam a uma penumbra e uma aura de expectativa
enchia o ar. Ela era a melhor dançarina, talvez a única realmente boa. Seraphine
“Seashell” não dançava pelo dinheiro, nem pela admiração dos homens que o
pagavam, muito menos pelos jantares e bebidas em bares requintados. Ela dançava
porque era isso que fazia seu coração feliz. Aliás, era provavelmente a única
coisa que o fazia.
Seashell
respirou fundo e fechou os olhos atrás da cortina. A vibração e o arrepio que
lhe percorriam a coluna sempre que estava ali já se faziam sentir. Recordou
alguns passos enquanto ouvia a voz de Rick, o apresentador animado, anunciar a
atração. A casa devia estar cheia. Como todas as noites em que ela dançava.
Viu
Miracle e Lovely de esguelha, arrumando as meias–calças apoiando os pés numa
cadeira. Elas sorriram e fizeram sinal de positivo para ela. Ouviu seu
pseudônimo ao microfone. A cortina estava se erguendo. Seashell endireitou–se e
colocou no olhar toda segurança e malícia que pôde reunir. Os braços erguidos
delicadamente formavam uma taça em relação ao corpo esguio. As pernas cruzavam–se
levemente, um pé à frente do outro, como as bailarinas fazem.
A luz
forte e colorida revelou sua figura para as pessoas ali presentes. A música
começou a tocar. Os aplausos encheram seus ouvidos e ela começou a mover–se
como uma pluma levada pela melodia marcante e sedutora. Como uma onda ao sabor
do vento.
***
– O que
você acha? Claro que vou jantar com o Senhor Whalberg hoje! – ia dizendo a voz
esganiçada de Lara “Lovely” – Ele tem um ótimo gosto para vinhos...
– Assim
como o bolso... – completou Maggie “Miracle”, a voz mais baixa, suave como um
sussurro.
As duas
riram, calçando os sapatos comuns e os casacos de veludo.
Seraphine
se concentrava em remover a maquiagem dos olhos, sentada em frente ao espelho
embaçado. Mas as vozes das colegas de palco a distraíam vez ou outra, fazendo–a
ouvir as futilidades que não queria:
– Um
carro lindo, enorme e vermelho! Acredita nisso? Ele adora quando elogio aquele
carro, você sabe, é como um troféu para ele, pobre George! – Lara ria às
gargalhadas enquanto falava de mais um dos clientes do La Lune. – Você acha que
devo usar meu perfume francês então?
– Mas
foi Peter quem lhe deu de presente, não lembra? – disse a outra, abotoando o
casaco.
– Nossa,
é mesmo! – lembrou, dando um tapinha na testa. – Se não fosse a sua memória,
não sei o que seria da minha...
Elas
riram mais um pouco, matraqueando até se lembrarem de que Seraphine ainda
estava ali, calada e quieta como sempre. Seraphine agora prendia os cabelos
longos num rabo–de–cavalo, já de rosto limpo, uma feição angelical e livre de
imperfeições. Ela tinha um rosto de bebê, nada mal para os seus 25 anos. Era
jovem e sua aparência ressaltava isso.
Maggie e
Lara passaram por ela, o olhar de Lara já era conhecido, provavelmente com uma
pontinha de inveja da leveza de Seraphine. Ela era um sucesso, mas não se
importava nada com isso. Não era como Lara, que ostentava seu já pouco talento para
o que quer que fosse, saía noite afora com os clientes do La Lune e ficava
tagarelando para quem quisesse ouvir suas historinhas superficiais.
Lara
“Lovely” era longilínea, loira, os olhos muito azuis que pareciam faiscar ao
olhar para qualquer um, lábios finos que revelavam um sorriso travesso e trazia
as unhas pintadas de cores tão berrantes que quase ofuscavam as roupas
extravagantes que usava. Maggie “Miracle” era sua fiel companheira, mais baixa
e de traços curvilíneos, de olhar profundo, íris escuras. Seraphine até gostava
de Maggie, o problema era a companhia que escolhera. O que exagerava no
esmalte, Lara o fazia em sua maquiagem: a mulher parecia quase uma boneca
perfeita, devido à grossa camada de pó e rouge que encobriam as faces. Os
cabelos loiros só destacavam ainda mais o rosto. As duas estavam sempre juntas,
tramando juntas, bebendo juntas e sabe–se lá o que mais faziam juntas.
– Boa
noite! – disse Maggie, acenando levemente.
– Até
amanhã, querida... – completou Lara, abrindo a porta.
Seraphine
apenas virou–se e sorriu, acenando com a cabeça. Não falava muito. Às vezes nem
falava. Só queria terminar de arrumar os cabelos e sair dali.
Levantou–se
e pegou a mochila na cadeira que Lara deixara. Vestiu o moletom azul de
ginástica folgado por cima da camiseta branca e enfiou os pés nos tênis
brancos. Estava frio, mas não tanto que precisasse daqueles casacos
espalhafatosos de veludo.
Sentia–se
cansada, mas feliz por ter dançado naquela noite. Ela só queria chegar em casa
e tomar um banho, brincar um pouco com o gato, talvez comer alguns biscoitos
com leite, sentar no sofá e ver um filme na TV. Só o pensamento disso a fez
sorrir um pouco.
Já ia
fechar a porta do camarim, quando viu Adrian outra vez parado à sua frente. Ele
era bem mais alto que Seraphine, esbelto, beirava os 37 anos, mas seu rosto era
jovem, um sorriso simpático e um ar de homem de negócios, com aquela camisa
social amarelo–pálido, calça preta e sapatos de bico quadrado. Os cabelos
curtos e espetados eram de um tom claro, entre o mel e o castanho. Seraphine
evitava olhar diretamente para ele.
– Oi,
Shelly. Parabéns pela apresentação. – ele disse gentil.
Seraphine
olhou para o chão e agradeceu:
– Ah,
obrigada.
Ele
estava bem no meio do caminho, então seria mais fácil se ela apenas esperasse
que ele dissesse o que tinha para dizer.
– Escuta,
estamos vendo um espetáculo para o aniversário do clube... Dez anos, hein?
– É, um
grande acontecimento.
– Sim, e
quero que seja um sucesso. – ele sorriu. Ou Seraphine imaginou que o tivesse
feito, pela voz dele. – E que você me ajude a planejar os detalhes... Você é
ótima nisso.
– Eu...
Eu vou pensar. Ok? – ela disse, por fim.
– Ei...
– ele colocou um dedo sob o queixo dela, fazendo–a olhar nos olhos escuros
dele. – Pense com carinho, por favor. Eu sei que você gosta de dançar e que
está aqui por isso. Mas pense também que é muito importante na administração do
Clube La Lune.
Ela
assentiu com a cabeça, tentando desviar o olhar. Adrian sempre fazia isso. Era
intimidador. Ele olhava dentro dos olhos dela, procurando alguma coisa que
Seraphine não sabia o que era.
– Você
devia falar mais, também. Sua voz é muito agradável. – e sorriu outra vez, o
dedo deslizando pelo queixo de Seraphine. Ela recuou.
– Adrian,
eu... Agradeceria se você simplesmente me levasse em casa. Sabe, está tarde,
estou cansada... – Seraphine mirava um ponto acima do ombro dele.
Adrian
sorriu levemente. Passou uma mão pelos cabelos, deixando–os um pouco
arrepiados.
– Claro.
Desculpe... – pediu ele – Vamos.
Ela
sentiu um alivio por alguns minutos.
Os dois
seguiram no carro espaçoso de Adrian, um Mercedes preto. Era um carro muito
bonito, chamava a atenção e o amigo adorava aquele carro. Quatro vezes por
semana, levava Seraphine para casa. Ela não tinha mais ninguém além dele em
Downville.
Não
trocaram muitas palavras, aliás, Seraphine acreditava que quanto menos Adrian
se sentisse íntima dela, melhor. Não gostava muito de trocar figurinhas.
– Sabe
Shelly... – ia começando Adrian, mas Seraphine fez um muxoxo. Ele riu baixinho,
sem tirar os olhos da estrada. – Desculpe
Seraphine, eu estou orgulhoso de você. Tem evoluído muito nas
apresentações. Isso pode lhe trazer boas oportunidades.
– Eu
estou feliz onde estou Adrian, obrigada... – disse ela, brincando com a alça da
mochila.
– Eu sei
querida... Ah... Seraphine. Mas você tem talento.
– Eu
treino muito, me dedico. Não preciso sair de onde estou. Estou bem, assim.
Ele não
disse mais nada.
Poucos
minutos depois, o Mercedes parou à frente de um prédio razoável no subúrbio de
Downville. Tinha quatro andares, pintado de branco e verde–musgo, a maior parte
das janelas já apagadas. Seraphine pegou sua mochila e abriu a porta do carro.
– Obrigada,
Adrian. E boa noite. – disse, acenando levemente.
– Boa
noite... Seraphine. – Adrian riu outra vez.
Ela
acenou com a cabeça e saiu, fechando a porta.
Adrian
ainda ficou parado por alguns segundos, esperando Seraphine entrar no prédio.
Assim que ela entrou, ouviu o carro sair novamente. Era uma espécie de ritual
de todas as noites. Na verdade, suas noites eram sempre as mesmas.
Seraphine
subiu os degraus sem nem notar. A melhor parte do dia era chegar em casa.
Abriu a
porta do apartamento, virando a chave duas vezes, e atirou a mochila no sofá,
tirando logo o moletom. Se livrar dos tênis e das roupas era a primeira coisa
que fazia quando chegava.
Não
demorou muito e seu gato cinzento, Sammy, veio roçar em suas pernas, alegre com
a volta de sua dona. Miou baixinho e Seraphine coçou atrás de suas orelhas,
sorrindo. Desde que fora morar ali, Sammy foi sua única companhia. Quando quer
que ele olhasse para ela com aqueles olhinhos cor de âmbar, ela não se sentia
tão sozinha.
Foi até
a cozinha, lavou as mãos, pegou o leite na geladeira, duas fatias de pão, geleia
de uva e colocou sobre a bancada de mármore. Sentou–se num dos bancos altos de
madeira e começou a preparar seu lanche da noite. Sammy sentou–se a seus pés e
ficou olhando para Seraphine. Havia apenas silêncio àquela hora, nada além do
som do copo pousando sobre a bancada.
Ela
olhou em volta e tudo continuava como sempre. A sala espaçosa, apenas uma
poltrona grande preta a um canto, uma estante ocupada por uma televisão pequena
e muitos livros nas prateleiras. Seraphine colecionava livros. Bem, havia os
que comprava e os que Adrian lhe dava de presente. Completando a sala, um
tapete branco e felpudo na entrada e uma janela de vidro, que dava para a
avenida abaixo. Aquele era o terceiro andar e ela gostava de debruçar–se na
janela e olhar a cidade. A cidade em que nada acontecia. Em que nada mudava.
Ela
reservava uma parte da sala para seus ensaios. Ali, apenas um espelho grande,
largo, uma cadeira de madeira simples, uma mesinha de apoio com um aparelho de
som, alguns CDs de suas bandas preferidas e um jarro com flores que recebia
todos os dias. Hoje eram petúnias amarelas. Adrian as mandava. Seraphine terminou
seu leite, abocanhou o último pedaço de pão e foi tirando o resto das roupas
até chegar ao quarto.
Deitou–se
na cama apenas em sua lingerie e soltou os cabelos. Fechou os olhos. Sentiu
Sammy vir deitar–se ao seu lado. Precisava de um banho, escovar os dentes, os
cabelos, vestir uma roupa confortável...
Seraphine
adormeceu.
Este foi o primeiro capítulo de “La
Lune”.
Aguardem cenas dos próximos
capítulos... Curta a página no facebook: La Lune - Lorena Silva.
Em breve estará nas estantes e nos corações de vocês!
Em breve estará nas estantes e nos corações de vocês!
adorei o primeiro capitulo prima. estou orgulhosa de voce. parabens. quero logo adquirir um exemplar e deleitar-me com a historia da Shelly. Larissa Santos
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