As Crônicas de Nárnia, C.S. Lewis (volume único) - Martins Fontes, 2009, 737 páginas |
Alguns minutos dedicados ao meu espanto
Eu posso ter demorado muito tempo (em todos os sentidos) para concluir a leitura de As Crônicas de Nárnia, mas há poucos minutos, quando fechei o livro, fitei o vazio por... Sei lá quanto tempo. Acho que secretamente eu estava procurando a passagem para Nárnia naquela parede branca e sem graça. Mas arrisco dizer que me tornei uma fã escancarada de C. S. Lewis.
Isso por que nenhum autor tinha conseguido me fazer ler um livro "épico moderno" (olha eu, inventando um gênero literário - PATENTEADO hahaha), digamos assim, antes. Eu explico.
Sabem O Senhor dos Anéis, clássico do estilo, em que há grandes feitos, cavaleiros, fadas, gigantes, longas caminhadas pela floresta, lutas corpo-a-corpo na ponta da espada e tudo isso? Nunca li. Gosto muito dos filmes, mas os livros me venceram pelo cansaço. Sabem Eragon? Dragões, dragões e... Dragões? Também só li metade do primeiro livro e considerava até hoje meu melhor feito desse estilo. E aí veio Nárnia, que é exatamente o que? O mesmo estilo. Mas com um diferencial: foi escrito para crianças, ou seja, como se fosse uma versão "mais light" de O Senhor dos Anéis.
C. S. Lewis escreveu o livro lá nos idos dos anos 50 (aqui, só chegou nos anos 2000), mas o fez por que sabia o que estava fazendo. Ele mesmo fala, em um de seus ensaios (Três Maneiras de Escrever Para Crianças, que inclusive vem nessa edição do livro), que escreveu os livros que ele gostaria de ter lido quando era criança, só. Sem pretensões de mercado, sem "dar o que o público quer". Ele fez de um livro infantil uma obra-prima, comparável aos contos de fadas clássicos. MAS AFINAL O QUE É QUE ESSE LIVRO TEM, LOH?
A História
"As Crônicas de Nárnia" é uma compilação de sete livros ou "crônicas" que narram os feitos realizados nas terras de Nárnia, um universo paralelo ao nosso, bem pertinho, pode estar inclusive dentro do seu guarda-roupa. Lá, os animais falam e tudo é governado pelo grande Aslam, o Leão. Durante as crônicas, narradas pelo feliz velhinho C.S Lewis (que não libera o segredo da entrada de Nárnia pra ninguém), encontramos os reis e rainhas que passaram por aquelas terras e seus grandes feitos e aventuras.
Tivemos as adaptações para o cinema de apenas três das histórias ("O Leão, a Feiticeira e o Guarda-roupa", "Principe Caspian" e "A Viagem do Peregrino da Alvorada"), mas recentemente tivemos a notícia que mais um será adaptado: "A Cadeira de Prata", ainda sem previsão de lançamento. Segue uma breve descrição de cada livro, só para dar um gostinho.
- Temos "O Sobrinho do Mago", que é o pontapé inicial da história de Nárnia, onde presenciamos a própria Criação de tudo depois que duas crianças, Polly e Diggory, do nosso mundo conseguem chegar lá por magia.
- Em seguida, "O Leão, A Feiticeira e o Guarda-roupa", que traz dessa vez quatro irmãos, os Pevensie, através de um guarda-roupa para Nárnia para combater o cruel reinado da Feiticeira Branca, Jadis.
- Depois, conhecemos as redondezas de Nárnia e Arquelândia com "O Cavalo e Seu Menino", onde o jovem Shasta pretende impedir que uma grande invasão a Nárnia ocorra pelos cruéis calormanos - acompanhado de seu cavalo, Bri, claro.
- Já em "O Príncipe Caspian", os quatro irmãos Pevensie retornam à Nárnia para impedir a destruição do país pelos telmarinos, governados pelo antipático rei Miraz. O sobrinho de Miraz, no entanto, Caspian X, pretende reinvindicar seu trono e os irmãos Pervensie vão ajudá-lo nisso.
- Em "A Viagem do Peregrino da Alvorada",apenas dois dos irmãos Pevensie retornam à Nárnia acompanhados de um primo bem pentelho, partindo numa jornada juntamente com Caspian e o imponente navio Peregrino da Alvorada em busca dos sete fidalgos banidos justamente pelo tio de Caspian na aventura anterior.
- "A Cadeira de Prata", a penúltima aventura, já não traz os irmãos Pevensie, inaugurando outra era em Nárnia. Dessa vez, apenas o primo pentelho (Eustáquio) retorna, levando consigo sua amiga Jill, e os dois precisam encontrar o filho perdido de Caspian, Rilian, e recebem uma convocação do próprio Aslam para essa façanha.
- O último livro, "A Última Batalha", narra justamente a última batalha lutada pelo último rei de Nárnia, Trinian, descendente de Caspian X, acompanhado mais uma vez de Eustáquio e Jill. Agora, Nárnia está sendo destruída pelos desmandos de Manhoso, o Macaco, que cria uma grande mentira para dominar todos os animais, aliando-se aos guerreiros calormanos para massacrar a terra de Aslam. Sim, é o fim de Nárnia. Ou o começo?
*Nesse volume único, as crônicas foram organizadas pela preferência do autor, mas foram escritas em épocas diferentes. Por exemplo, O Sobrinho do Mago foi escrita bem depois de O Principe Caspian, de forma que Lewis idealizou toda a história em épocas distintas*
Minhas impressões e assombros
Antes de ler Nárnia, já conheci outras histórias fantásticas, como os próprios contos de fada até mesmo Harry Potter e Percy Jackson (que é mais "modernoso"). Mas a obra de Lewis assusta por ser tão... Sincera. Ele disse que escreveu o que gostaria de ler. Essa é a chave, talvez uma das coisas mais importantes quando se escreve um livro. E ele foi e criou todo esse mundo fantástico não de uma forma cansativa e complexa, mas como se fosse muito natural um dia você entrar num guarda-roupa e sair num bosque coberto de neve e encontrar um gentil fauno que oferece chá.
A escrita de Lewis é leve e ao mesmo tempo tão verdadeira, como nas próprias descrições que faz - ele explica o que consegue descrever ou não ou sempre explica com comparações que são muito divertidas. Ele não pára para descrever cada personagem, mas você os conhece pelas suas ações, o que realmente define quem somos.
De um modo geral, cada crônica é relativamente curta, o que dá sempre um tempo para respirar e retomar a jornada. Outro detalhe: as ilustrações são fantásticas. Temos mapas, criaturas inventadas e cenas lindas desenhadas no início de cada crônica e de cada capítulo. Foi escrito para crianças, mas não de uma forma que subestime-as. Mas que faz jus à inteligência de quem está descobrindo o mundo. E quando um adulto lê, com certeza desperta sua criança interior e te faz refletir sobre valores como justiça e lealdade. E, claro, nunca deixar de acreditar na fantasia como uma certa personagem fez no final.
Tem mais uma coisa que quero dizer a respeito: um dos principais comentários sobre As Crônicas de Nárnia é de que a história é um paralelo da Bíblia, onde Aslam representa Jesus Cristo, por exemplo, o primeiro livro representa o Gênesis e o último livro, o Apocalipse. "Oh, nossa, que coisa polêmica e chocante", você pensa. Eu achei brilhante. E o próprio Lewis não fez nenhuma questão de esconder isso. Ao longo de todos os livros, fica mais do que evidente que é uma obra carregada de religiosidade, em particular, de cristianismo.
Mas não vou aprofundar isso, o que quero dizer é que religiosidade na infância pode ser algo bem abstrato (já o é, para nós, adultos). As Crônicas de Nárnia seria uma analogia mais concreta de "explicar" Deus, por exemplo, a uma criança. Todas as relações de causa e consequência, os personagens e a trama tem alto fundo moral e transmitem valores muito fortes, como já mencionei. É tudo uma questão de abrir a mente. Eu sei que eu vou ler essas histórias para meus futuros filhos sem medo.
Bem, pessoas, espero que eu não os tenha cansado, mas eu precisava vir aqui desabafar sobre esse mundo. Eu precisava plantar essa semente. É realmente MUITA coisa, é um livro muito rico, um dos mais ricos que já li, e espero que tenha me feito entender... Qualquer coisa, temos aí os comentários, vocês sabem onde me encontrar. Que Aslam esteja com vocês!
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