Quando você era criança, provavelmente entre seus materiais escolares estavam muitos lápis: de cor, de escrever, de desenho. Mas sua mãe não comprava canetas. "Criança não escreve de caneta", dizia. Você se perguntava por quê.
E aí você foi crescendo, avançando mais um nível de ensino. Foi quando tudo mudou: agora você ia escrever de caneta. É uma conquista. Você se sente importante com aquela esferográfica na mão. E todos diziam: "A lápis, não aceito".
Afinal, por que criança não escreve de caneta e adulto não usa lápis? Por causa da borracha.
Escrever a lápis é como ser criança: você pode começar arriscando alguns traços, sem saber bem no que vai dar, que forma as coisas tem... De repente, uma linha fica maior que a outra, escapa do desenho que você pensou. E aí não tem problema, pega a borracha e apaga. Tentando, errando e apagando você vai construindo paisagens, casas, pessoas, palavras... Se algo der errado, sua mãe vem e diz: "Apaga" e a professora elogia o desenho borrado "Que lindo!" e coloca um carimbo de sol sorrindo no canto da página.
Escrever a caneta, no entanto, é como ser adulto: você precisa prestar mais atenção. Qualquer erro de caneta já é um incômodo. Você precisa escolher uma caneta boa, de tinta firme - se borrar a folha, já estraga metade do serviço; se sujar as mãos, mancha todo o resto. E a pior parte: não pode apagar. O que foi escrito de caneta, permanece de caneta e ponto final. Ok, existe corretivo. Mas quem gosta de marca de corretivo em cima da folha? No topo da prova vem escrito "Questões rasuradas serão anuladas", "Questões a lápis não serão aceitas".
Mas eu poderia escrever as mesmas idéias a lápis e a caneta e significariam a mesma coisa, você pensa. É, mas quando se é adulto e se usa lápis, ninguém te leva muito a sério.
E nem pense em riscar com linhas, redemoinhos, passando "x" em cima do seu erro. Ele vai ficar lá, evidente, a não ser que você volte do começo e refaça. Nem todo mundo consegue passar a vida a limpo, entretanto. E aquele borrão imenso fica lá, e todos que lerem seu texto vão saber que você errou.
Por isso, lápis é coisa de criança e caneta é coisa de adulto. Na pressa de querer logo escrever de caneta, acabamos esquecendo que bom mesmo era escrever a lápis, quando ainda havia borracha. Depois da caneta, você teme os erros. E temer errar não é algo que devia ser ensinado na escola. Não acha?
Até a próxima!
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