21 de maio de 2013

Já Li - "O Nariz e Outras Crônicas", de Luís Fernando Veríssimo

Olá!

Eu me peguei pensando que existe muita coisa de que gosto sobre as quais nunca falei aqui no blog. Acaba acontecendo, mas eu vou lembrando e postando, não se aflijam!

Uma dessas coisas acaba se tornando duas: crônica e Luis Fernando Veríssimo. Sou apaixonada por crônica e é por causa desse autor mesmo que comecei a ler o gênero. 

Todo mundo lembra o que é crônica, né? São narrativas curtas que geralmente falam sobre o momento atual que se vive. Aqueles textos inspirados em situações do cotidiano e tudo mais. Eu amo! E o Veríssimo faz isso muito bem - já li muitos livros dele e hoje quero falar principalmente de um que é meu xodó: "O Nariz e Outras Crônicas".
Nessa compilação estão muitas das obras-primas de Veríssimo. Ele encontra um jeito muito particular de falar da realidade brasileira. Sim, seus personagens são brasileiríssimos e ele mesmo se insere em algumas crônicas em que fala da profissão de escritor ou expressa um ponto de vista particular a respeito de algum assunto.

Para citar algumas crônicas que não podem deixar de ser lidas nesse livro estão:
  1. "Cornita", uma narrativa bem-humorada que fala de um pai que ajuda o filho a fazer um trabalho da escola; 
  2. "Os Moralistas", sobre um grupo de amigos que tenta animar um dos parceiros que está pensando em se divorciar; 
  3. "Os Homenzinhos de Grork", que satiriza o fato de os alienígenas sempre invadirem os EUA;
  4.  "O Estranho Procedimento de Dona Dolores", sobre uma dona de casa que adquire o estranho hábito de agir como se estivesse numa propaganda;
  5.  "O Gigolô das Palavras", uma brilhante crônica sobre a língua portuguesa; 
  6. "O Nariz", que é título da compilação e trata da idéia repentina de um homem de usar sempre um daqueles óculos com nariz e bigode de borracha. Afinal, o que é ser normal?
Trago aqui uma amostrinha de uma das crônicas de Veríssimo que também está em "O Nariz".

A Vida em Manchetes

- Viu só? Caiu outro avião.

- É. Desta vez foram 85 mortos.

- Já tomei uma decisão: nunca mais entro em avião.

- Bobagem.

- Bobagem é morrer.

- Então não entra mais em carro, também. Proporcionalmente, morrem mais pessoas em acidentes de...

- Mas não entrar em automóvel eu já tinha decidido há muito tempo! Você não notou que eu ando mais magro? É de tanto caminhar.

- Você caminha por onde?

- Como, por onde? Pela calçada, ué.

- Dá todo dia no jornal. “Ônibus desgovernado sobe na calçada e colhe pedestre. Vítima tinha jurado nunca mais entrar em qualquer veículo.”
 A chamada ironia do destino.

- Quer dizer que calçada...

- É perigosíssimo...

- O negócio é não sair de casa.

- E, é claro, mandar cortar a luz.

- Por que cortar a luz?

- Pensa num dedo molhado e distraído na tomada do banheiro. “Caiu da escada quando trocava lâmpada. Fratura na base do crânio.”

- Está certo. Corto a luz.

- “Tropeça no escuro e bate com a têmpora na quina da mesa. Morte instantânea.” E você vai cozinhar com quê?

- Gás.

- Escapamento. “Vizinhos sentiram cheiro de gás e forçaram a porta: era tarde.” Ou: "Explosão de botijão arrasa apartamento.”

- Fogareiro a querosene.

- “Tocha humana! Morreu antes que...”

- Comida enlatada fria.

- Botulismo.

- Mando comprar comida fora.

- Espinha de peixe na garganta. Ossinho de galinha na traquéia. “Comida estragada, diarréia fatal!”

- Não preciso de comida. Vivo de injeções de vitamina...

- Hepatite...

- ... e oxigênio

- Poluição. “Autópsia revela: pulmão tava pior que saco de café.” Estrôncio 90 francês.

- Vou viver no campo, longe da poluição, do trânsito...

- Picada de cobra. Coice de Mula. Médico não chega a tempo.

- Não saio mais da cama!

- Está provado: 82 por cento das pessoas que morrem, morrem na cama. Não há como escapar.

- Mas eu escapo. A mim eles não pegam. Tenho um jeito infalível de escapar da morte.

- Qual é?

- Eu vou me suicidar.



Luis Fernando Veríssimo faz um retrato de tudo que já vivemos um dia com suas crônicas rápidas e bem sacadas. Com certeza conhecemos alguém parecido com os personagens. A leitura é fácil e muito divertida.
Além de "O Nariz", recomendo também "As Mentiras Que Os Homens Contam", "Historias Brasileiras de Verão", "Sexo Na Cabeça" e "O Analista de Bagé" do autor que vale a pena ler, reler, ter na estante e levar sempre na bolsa. 

Até a próxima!

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