Olá!
Eu me peguei pensando que existe muita coisa de que gosto sobre as quais nunca falei aqui no blog. Acaba acontecendo, mas eu vou lembrando e postando, não se aflijam!
Uma dessas coisas acaba se tornando duas: crônica e Luis Fernando Veríssimo. Sou apaixonada por crônica e é por causa desse autor mesmo que comecei a ler o gênero.
Todo mundo lembra o que é crônica, né? São narrativas curtas que geralmente falam sobre o momento atual que se vive. Aqueles textos inspirados em situações do cotidiano e tudo mais. Eu amo! E o Veríssimo faz isso muito bem - já li muitos livros dele e hoje quero falar principalmente de um que é meu xodó: "O Nariz e Outras Crônicas".
Nessa compilação estão muitas das obras-primas de Veríssimo. Ele encontra um jeito muito particular de falar da realidade brasileira. Sim, seus personagens são brasileiríssimos e ele mesmo se insere em algumas crônicas em que fala da profissão de escritor ou expressa um ponto de vista particular a respeito de algum assunto.
Para citar algumas crônicas que não podem deixar de ser lidas nesse livro estão:
- "Cornita", uma narrativa bem-humorada que fala de um pai que ajuda o filho a fazer um trabalho da escola;
- "Os Moralistas", sobre um grupo de amigos que tenta animar um dos parceiros que está pensando em se divorciar;
- "Os Homenzinhos de Grork", que satiriza o fato de os alienígenas sempre invadirem os EUA;
- "O Estranho Procedimento de Dona Dolores", sobre uma dona de casa que adquire o estranho hábito de agir como se estivesse numa propaganda;
- "O Gigolô das Palavras", uma brilhante crônica sobre a língua portuguesa;
- "O Nariz", que é título da compilação e trata da idéia repentina de um homem de usar sempre um daqueles óculos com nariz e bigode de borracha. Afinal, o que é ser normal?
Trago aqui uma amostrinha de uma das crônicas de Veríssimo que também está em "O Nariz".
A Vida em Manchetes
- Viu só? Caiu outro avião.
- É. Desta vez foram 85 mortos.
- Já tomei uma decisão: nunca mais entro em avião.
- Bobagem.
- Bobagem é morrer.
- Então não entra mais em carro, também. Proporcionalmente, morrem mais pessoas em acidentes de...
- Mas não entrar em automóvel eu já tinha decidido há muito tempo! Você não notou que eu ando mais magro? É de tanto caminhar.
- Você caminha por onde?
- Como, por onde? Pela calçada, ué.
- Dá todo dia no jornal. “Ônibus desgovernado sobe na calçada e colhe pedestre. Vítima tinha jurado nunca mais entrar em qualquer veículo.”
A chamada ironia do destino.
- Quer dizer que calçada...
- É perigosíssimo...
- O negócio é não sair de casa.
- E, é claro, mandar cortar a luz.
- Por que cortar a luz?
- Pensa num dedo molhado e distraído na tomada do banheiro. “Caiu da escada quando trocava lâmpada. Fratura na base do crânio.”
- Está certo. Corto a luz.
- “Tropeça no escuro e bate com a têmpora na quina da mesa. Morte instantânea.” E você vai cozinhar com quê?
- Gás.
- Escapamento. “Vizinhos sentiram cheiro de gás e forçaram a porta: era tarde.” Ou: "Explosão de botijão arrasa apartamento.”
- Fogareiro a querosene.
- “Tocha humana! Morreu antes que...”
- Comida enlatada fria.
- Botulismo.
- Mando comprar comida fora.
- Espinha de peixe na garganta. Ossinho de galinha na traquéia. “Comida estragada, diarréia fatal!”
- Não preciso de comida. Vivo de injeções de vitamina...
- Hepatite...
- ... e oxigênio
- Poluição. “Autópsia revela: pulmão tava pior que saco de café.” Estrôncio 90 francês.
- Vou viver no campo, longe da poluição, do trânsito...
- Picada de cobra. Coice de Mula. Médico não chega a tempo.
- Não saio mais da cama!
- Está provado: 82 por cento das pessoas que morrem, morrem na cama. Não há como escapar.
- Mas eu escapo. A mim eles não pegam. Tenho um jeito infalível de escapar da morte.
- Qual é?
- Eu vou me suicidar.
Luis Fernando Veríssimo faz um retrato de tudo que já vivemos um dia com suas crônicas rápidas e bem sacadas. Com certeza conhecemos alguém parecido com os personagens. A leitura é fácil e muito divertida.
Além de "O Nariz", recomendo também "As Mentiras Que Os Homens Contam", "Historias Brasileiras de Verão", "Sexo Na Cabeça" e "O Analista de Bagé" do autor que vale a pena ler, reler, ter na estante e levar sempre na bolsa.
Até a próxima!
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