23 de abril de 2013

José de Alencar e Suas "Senhoras"

Vocês sabem que curto muito bibliotecas e sempre preencho muitas carteirinhas de obras que garimpo por lá. Hoje mesmo eu dei uma passeada na biblioteca e peguei um livro de um dos meus autores preferidos: José de Alencar. E como lembrei também que nunca falei dele aqui no blog, achei uma boa oportunidade no dia de hoje que, dizem, é dia do livro (aeeeeeeeee *fogos de artifício*).

Pode não parecer, pelo histórico do blog, que leio obras nacionais, mas SIM, eu leio. Menos frequentemente, mas quando esbarro num Machado de Assis, Drummond, Luis Fernando Veríssimo e mais uma galerinha aí, eu devoro as páginas vorazmente. O mesmo acontece com José de Alencar.
O primeiro livro dele que tive contato foi "Iracema", com uns 10 anos de idade. Naquela época, não entendia muito bem qual era a da literatura clássica e assim que abri, confesso que achei muito chato. Mas eu era apenas uma criança... "Senhora", presente que ganhei lá pelos 15 anos foi  obra que me conquistou pelo estilo do tio Zezinho (como o chamo carinhosamente). A partir daí quis conhecer outras obras, mas as que tenho mais carinho que José de Alencar escreveu foram "Senhora" e "Lucíola", as mulheres da minha vida. E delas vou falar agora para deleite de vocês.
"Senhora" se passa no Brasil do Segundo Império, lá no século XIX,  e conta o romance entre Aurélia Camargo e Fernando Seixas. O enredo que os une é o seguinte: Aurélia era uma moça pobre, sem posses, quando se apaixonou por Fernando, conhecido como Seixas, na história. Mas claro que naquela época, o bonitão do Seixas, mesmo estando na mesma situação que Aurélia, não ia querer casar com uma pobretona. Ele preferiu a Adelaide, outra moça por quem ele se interessou e com quem casaria por que o "dote" era bem gordo. Aurélia guarda toda a mágoa para si e resigna-se, sem o amado.


Mas o destino em toda sua ironia faz com que Aurélia receba uma herança que a tira de vez dessa vida sofrida, aí ela começa seu plano de vingança (muahahaha) contra Seixas: propõe casamento a ele por intermédio de seu tio e tutor Lemos , oferecendo um dote muito bom, mas exige que sua identidade permaneça em segredo. Seixas, malandrão (e na pindaíba) aceita na hora. E qual não é sua surpresa ao saber que a ricaça era Aurélia - e ainda fica feliz, por que além de linda, Aurélia já foi seu amor no passado. 


E vocês acham que Aurelinha ia deixar barato, entregar o ouro de bandeja pro Seixas? JAMAIS! Durante todo o livro, ela vai se vingando aos pouquinhos de toda humilhação que sofreu - e Fernando passa por maus bocados nas mãos dela. Ela humilha o rapaz de todas as formas possíveis, chegando ápice de exigir que ele o chame apenas de "Senhora Aurélia" (inclua aqui uma cena de uma mulher pisando de salto alto na cara de um homem kkkk), de onde vem o título do livro.


Ficou claro por que esse livro é tudo de bom? 


É muito interessante ver Aurélia se vingar de Seixas, e José de Alencar nos mantém ávidos acompanhando os diálogos entre os dois, onde sentimos cada faísca trocada entre Fernando e a Senhora Aurélia, faíscas de ódio, vingança e, sobretudo, de uma paixão que é sufocada pelo orgulho dos dois. Jamais revelarei o final, garanto que é sensacional.

José de Alencar costuma escrever protagonistas femininas, o que mais me fez amá-lo por valorizar e mostrar as nuances da alma de uma mulher. Outra que me encantou foi "Lucíola", que tem uma trama mais complexa e delicada que nossa amiga anterior. É contemporânea de Aurélia, mas trata de Lúcia, conhecida como Lucíola nos bailes da alta sociedade, uma cortesã muito benquista pelos homens do Rio de Janeiro (um eufemismo para dizer que era prostituta). Paulo, recém-chegado no Rio, a vê apenas uma vez e se encanta pela beleza de Lucíola, sem saber da fama da mulher. A partir daí, ele começa a procurá-la e aos poucos os dois estabelecem uma relação que se inicia com uma amizade, mas se torna um amor puro e profundo.


Luciola passa a refletir sobre sua condição, sobre as escolhas que fez na vida e, com a ajuda de Paulo, ela passa a retornar às suas raizes de menina humilde e com ele vai trilhando um novo caminho, em que descobre uma grande afeição por Paulo e uma vontade de recomeçar numa vida mais simples e tranquila.

Isso é só um resumo bem breve do que trata a história. Mas ao ler, José de Alencar traz uma forma tão comovente de contar a história de Luciola que é impossível não querer tirá-la da vida que leva, e condoer-se das quedas que ela já levou na vida. Traz o poder de redenção que o amor verdadeiro pode nos causar e Paulo foi literalmente a salvação de Lucíola, que depois de tantas idas e vindas que os dois passam na história, consegue cativar o amor de uma mulher que parecia tão fútil. 


É uma história cheia de sutilezas e também de crítica à sociedade brasileira daquela época, como sabemos, pois nossos professores de Literatura sempre diziam. Fora do compromisso de ler os clássicos de nosso país, de ver a obra como um registro da história brasileira, primeiramente, eu vi Lucíola e Aurélia como mulheres fortes e inspiradoras, donas de uma história de vida que podia ter sido a minha. E a José de Alencar devo essas duas histórias que até hoje tomam lugar na minha estante entre meus livros preferidos.

Bem, já falei bastante sobre tio Zezinho, e poderia falar mais, mas não quero encher muitas páginas hoje. Vocês tem sorte ;) Mas falando sério, peguei um compêndio dele hoje na biblioteca, de onde surgiu a inspiração desse post, com 4 obras: "A Viuvinha", "Cinco Minutos", "A Pata da Gazela" e "Encarnação", e sobre eles falo outro dia, quando tiver lido tudinho.

P.s.: No Blog da Loh, dia do livro é todo dia!

Até a próxima!


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