Olá!
Ultimamente andei pensando que leio bem pouca literatura brasileira. Quero dizer, já li alguns romances clássicos e gosto muito dos poetas e cronistas brasileiros, mas indo à biblioteca da faculdade dia desses vi lá uma única e pequena prateleira onde lia-se: "Literatura Maranhense" e isso me deu um estalo: eu nunca li um livro de um maranhense. Meu Deus, eu sou maranhense! kkkk
Mas piadinha à parte, eu fiquei em reflexão profunda por longos 2 minutos e decidi que ia ler mais obras escritas por meus conterrâneos. Afinal, eles escreveram histórias ambientadas na terra em que nasci, provavelmente devo conhecer todos os lugares de que falam. E também por que me senti ingrata e fiquei com medo de Gonçalves Dias vir puxar meu pé à noite :/
Então, decidi começar por um livro que vi lá, o qual meu pai tinha em casa e eu sempre via na prateleira mas jamais tive a iniciativa de ler: O Dono do Mar, de José Sarney. Sim, o cara. O bigodudo. O presidente do Senado. O Ex-presidente do Brasil. O Dono do Mar...anhão (entenderam?). Enfim, todo mundo conhece o político José Sarney. Eu quis conhecer o escritor.
O escritor José Sarney é membro da Academia Brasileira de Letras, minha gente, e eu sempre me perguntei por que. Aí abri O Dono do Mar e só fechei 24h depois. Sim, ele me pegou de jeito.
Traduzido para seis idiomas e adaptado para o cinema em 2005, O Dono do Mar conta a história do capitão Antão Cristório, um humilde pescador mas de coração bravo, que praticamente nasceu no mar. A partir de suas memórias, nos é contada a história de sua vida, como sua infância, seus romances e principalmente sua paixão pelo mar (e deste por ele). Cristório viveu muitas aventuras enfrentando o mar em sua biana Chita Verde, e o que ele viu de assombração nessas águas deixaria qualquer um de cabelo em pé.
Aparentemente, parece só história de pescador, mas o que me prendeu à história foi a linguagem usada: eu devo ter incorporado um vocabulário inteiro de termos marítimos por que eles estão por toda parte, misturados à fala dos personagens maranhenses que falam de um jeito tão simples, mas tão poético. Outro aspecto que me chamou atenção foi a relação de Cristório com o mar. O título do livro não poderia ser mais perfeito: ele se sente realmente dono do mar, nascido e criado por ele. Achei muito bonito o modo como ele se refere ao mar com respeito e admiração, mostrando que somos tão insignificantes frente à grandeza da natureza: "Se eu tivesse um cordão de ouro, eu dava pro mar", diz o Cristório criança selando sua união eterna com as águas.
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Cenas do filme "O Dono do Mar", de Odorico Mendes |
Eu não disse que eu devia conhecer todos os lugares de que os escritores maranhenses falam? Pois é, no livro são citadas as praias daqui, como Araçagy, Raposa, e os municípios, como São José de Ribamar, e sem falar da própria gente daqui, tão humilde e que já vi tantas vezes à beira do mar, tirando de lá seu sustento.
Confesso que me emocionei ao ler o livro, que é de uma delicadeza e verdade tão cativantes que já o elenquei para fazer parte da minha biblioteca particular.
Talvez o Sr. Sarney tenha suas dividas para com a minha terra, mas eu esqueci disso por alguns instantes no meio do mar que ele escreveu.
Até a próxima!