14 de agosto de 2012

Os Doadores

Estes tempos me peguei pensando nas coisas que ando fazendo e vi que, na verdade, faço muito pouco por mim mesma. 

Eu sempre fui uma pessoa que se sacrifica por qualquer coisa. Por qualquer um. Sim, talvez isso seja um erro. Mas eu tenho um coração mole e bobo demais, que confia, que acredita, que é pisado e amarrotado mil vezes, mas sempre volta, se renova, como se jamais tivesse sido pisado. Sou meio como aquele brinquedo, o João-Bobo. João é bobo porque você vai lá, lhe dá um soco e ele volta à mesma posição inicial. Você soca novamente, e ele continua lá. Repetidamente você o chuta, bate, joga de um lado pro outro, mas ele está lá, pronto para receber o outro golpe.

Então esta sou, a Maria-Boba.


E as pessoas (ah, as pessoas!), fazem a gente que é bonzinho achar que ser bom, na verdade, é ser ruim. 

Mas se pararmos para pensar, ser bom é uma virtude em falta esses tempos. Nós, pessoas que não guardam rancores, que não se zangam por mais de uma hora, que adoram dividir cada mínima coisa, que compartilham momentos, que dão carinho e não esperam nada em troca, nós, bonzinhos, somos uma raça em extinção.

Nós nascemos não para receber, mas para dar. Somos doadores legítimos, os que aguentam o peso do mundo nas costas e não dão um pio. Tudo bem, às vezes damos um pio, mas não é nada sério. Nós apenas suportamos. Nós engolimos sapos, cobras, um pântano inteiro, mas não conseguimos odiar, não conseguimos devolver na mesma moeda, nós apenas viramos e oferecemos a outra face.
Porque evitamos o ódio, as lágrimas, o rancor alheio, evitamos discussões, evitamos brigas e apenas evitamos. Mas de tanto evitar, a nossa queda é bem mais forte. Contudo, aprendemos mais rápido com elas. E nos erguemos vitoriosos novamente.

Doadores como nós, não vemos a dor como sofrimento. Não temos vergonha de chorar, sozinhos ou na frente de alguém, porque isso é sentir e tentar entender o que está sentindo.O que os outros acham que é sofrimento, para nós é engrandecimento. Nós erramos, uma única vez ou várias, geralmente não tememos assumir. As vezes assumimos culpas que não são nossas, só para não criar desentendimentos. 

Quando amamos, nos doamos por completo, damos até a faca para o outro apunhalar nosso coração. Mas isso não nos torna amargos, não nos torna insensíveis, nem duros. Nos tornam ainda mais doces e esperançosos, ainda mais persistentes. Nossa marca é a perseverança. O próximo que amarmos, receberá o dobro de carinho, o dobro de amor. Porque para nós, cada nova tentativa é uma folha em branco. Talvez consultemos algumas vezes as folhas anteriores, mas só para ter certeza do que deve ser apagado. Mas na folha a nossa frente, vemos apenas possibilidades e lá vamos nós de novo, nos atirando vendados de um precipício - no fundo pode haver espuma e luz do sol. Mas também pode haver pedras e escuridão. E mesmo assim, não temos medo. Apenas erguemos a cabeça e saltamos, respirando bem fundo e torcendo para que o final chegue logo.
Os doadores são injustiçados, discriminados, taxados de ingênuos e bobos. Mas no fundo, os outros querem ser como nós, que vamos doando, doando, doando e raramente recebemos algo em troca. Contudo, continuamos doando porque temos esperança. E assim vamos mudando as pessoas que vivem ao nosso redor. Aos poucos, deixamos nossa marca nelas e quando elas se vão (porque nós nunca as deixamos), com certeza se lembrarão do quanto as amamos, mesmo que seja no segundo antes de dormir.

Doar é uma virtude. Se doar é ainda maior. A recompensa? Amor reciproco? Quase nunca. Agradecimento? Jamais. Mas tem um cara lá em cima que observa e vai anotando no caderninho os pontos. E de qualquer forma, dormimos com a consciência tranquila porque fizemos nossa parte: amamos, doamos, entregamos. Se o outro jogou fora, azar. 

Porque é assim que somos. Doadores doarão.

Até a próxima!


2 comentários:

  1. Muito bom seu texto!
    Eu me identifico muito com ele.
    Como você disse, para a sociedade de hoje, se você é bonzinho demais, você é muito bobo. E quando você quer fazer o certo por pensar nas consequências, tem sempre alguém para lhe taxar de "certinho". E já me taxaram assim, como se fosse um defeito.
    Às vezes eu até ficava refletindo se era um defeito ou não, muito chato isso... :x
    Enfim... não sei se sou uma das melhores doadoras do mundo, mas, muitas vezes, eu já abri mão do que senti para tentar compreender alguém de quem eu tinha uma enorme afeição. Tem horas que chega a cansar, por aparentar não haver reciprocidade (e, como você disse, muitas vezes não há)... :/
    E então acabo deixando para lá, exatamente com o pensamento final do seu post, de que não importa.
    Enfim...

    :*

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  2. Isso, mesmo. Eu sou uma doadora convicta e assumir isso é assinar meu atestado de boba. Mas eu nao me importo. Na verdade, prefiro isso do que aparentar ser forte e depois desmoronar.

    Vlw pela atebção :D

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