29 de novembro de 2011

Conto - "Era Só Uma Menina"

Crianças, hoje vou lhes contar uma história...

Há muito, muito tempo atrás, existia uma garota doce e delicada. Seu nome? Bem, não importa. Poderia ter sido qualquer uma de vocês. Ou parecida com alguma que vocês conhecem. Ela era uma menina solitária, triste. Podia contar nos dedos de uma mão as pessoas que importavam para ela. Três eram de sua família, as outras duas existiam apenas em sua imaginação.


Um dia, ela foi caminhar pelos bosques nos arredores de sua casa, sem destino, só pelo prazer de se distanciar da realidade... E lá ia ela quando esbarrou com um ser. Ele era bem maior que ela, se assemelhava a um homem normal. Mas não era. No momento em que ela enxergou seus olhos, soube que não havia nada de normal sobre ele. Ela recuou e tentou vê-lo melhor. Para sua surpresa, ele sorria. Sua aparência não era como a de nenhum príncipe que ela conhecia (ou que vira em seus livros), era apenas excêntrico. 

Ela abriu a boca para perguntar seu nome, curiosa, mas ele perguntou primeiro. Ela disse. Ele sorriu mais ainda. Elogiara seus modos, sua aparência, até a cor de seus olhos. A menina corava e percebeu que gostava dele. Gostava do que ele a fazia sentir. E sorriu de volta para ele.
A criatura imponente ajoelhou-se a seus pés e implorou-lhe que  fizesse dele seu escravo. Que pedisse o que quisesse, que ordenasse que lhe trouxesse as estrelas do céu ou uma pérola do mar. Ele faria, e faria sorrindo. A menina emocionou-se e balançou a cabeça. Ela não queria nada disso. Pegou-o pelas mãos e o fez ficar de pé, mesmo bem maior que ela, em sua excentricidade. Disse-lhe que o queria apenas ao seu lado, como um amigo. Que eles pudessem estar sempre juntos, não importando quando, onde nem como. Ele assentiu. E seguiu ao seu lado.

A criatura seguia feliz ao lado de sua menininha. Ela era doce e frágil, sempre precisando dele, que a protegia dos perigos do mundo como um pai atencioso, um irmão dedicado. Ela acreditava que, afinal, ele era um anjo. Um anjo estranho, mas um anjo. Anjo da guarda. Ele se sentia nas nuvens de onde viera ao lado de sua pequena.
Mas então a menininha cresceu. 

E crescia a olhos vistos. O anjo se sentia orgulhoso; Ela era fruto de seu cuidado, de suas recomendações, seus conselhos. A agora moça jamais o deixaria, ele sabia disso. Ela o amava. E ele agora a amava mais que tudo. Mas... espere.

A moça queria outras coisas. Exigia dele que fosse apenas normal, seu príncipe encantado, talvez. Ele não podia. Não queria. Longe dele ser algo tão profano para ela. Jamais seria capaz de tocar em um fio de cabelo dela. A moça irritou-se e ordenou que ele fosse embora para sempre. Odiou seu anjo por ele não querê-la. Estava apaixonada por ele. Azar o dela. 

O anjo partiu suas asas e desistiu de todas as razões para continuar vivendo. Sua menininha o decepcionara. Queria ser mulher; E ele não podia aceitar isso. Ela mudara e a nova moça, ele não conhecia e preferia esquecer.

A moça trancou-se em um quarto sem janelas. O bosque em volta entristeceu-se com ela. As flores não desabrochavam mais, os pássaros emudeceram. Havia cinza onde antes predominava a cor. Em meio aos seus soluços no escuro, a moça pôde ouvir algo lá fora. 
Não acreditou quando ouviu a voz de seu anjo. Ele voltara para ela! Decidira ser dela e inteiramente dela, para sempre! Ela correu para fora, os olhos com um brilho não mais úmido de lágrimas e olhou em volta. O ar entrava e saía rapidamente de seus pulmões. Estava ansiosa, procurando as asas enormes e acolhedoras de seu anjo pelo bosque.

Avistou alguém, mas definitivamente não era ele. 

O outro ser vinha detrás das árvores, num andar de serpente. A moça olhou no fundo de seus olhos negros. Ele era lindo. No mesmo segundo, ela sentiu-se impelida a jogar-se em seus braços para esquecer a dor. Foi o que fez.

Mas o ser tão belo se esquivou e a moça caiu no chão, em meio a relva. Sentiu uma dor em um lado do rosto, mas não se importou. Levantou-se e exigiu que o ser dissesse seu nome. Ele disse, em tom de zombaria. Não quis saber o dela. Ela não se importou. Talvez aquela criatura fosse seu anestésico, procurava desesperadamente uma distração de tudo que sofrera. Da perda de seu anjo.
A criatura era um demônio.

Ele vinha em sua direção, sabendo que sua beleza a distraía. Deixava-a hipnotizada com seu sorriso amplo e brilhante... Quando ela estava a ponto de ceder, ele a empurrava e ria de sua queda. Não a ajudava a levantar. Mas a moça acreditava que ele mudaria, confiava estranhamente nele.

O demônio, claro, adorava aquilo. Tinha uma mocinha estúpida a seus pés. Ela fazia tudo que ele queria, moldou-se a ele, tornou-se sua servente, alegre e dedicada. O demônio se aproveitava de sua bondade, ria de sua paixão cega, debochava de sua generosidade. A moça se sentia desconfortável, mas acreditava que sua doçura abrandaria o demônio.

Mas demônios são por natureza malignos.

Ele continuava fazendo a tornar-se o que ele queria. A moça começou a notar que estava sendo estúpida e que estava desperdiçando sua vida. Chorava todas as noites por aquele que a deixara e pelo que agora tinha. Estava cansada, queria morrer.

Decidiu que iria fugir do cativeiro em que o demônio a mantinha. 

Na calada da noite, enquanto o demônio dormia após um esplêndido banquete que ela preparara, a moça correu pelo bosque, sem qualquer bagagem, sem levar nada que pertencia ao demônio. Queria voltar para sua família, mas temeu que o demônio a perseguisse e os machucasse. Apenas correu para longe e nunca mais voltou ao bosque. 
 Após três dias de caminhada, faminta, sedenta, triste e derrotada, não aguentava dar mais nenhum passo. Chegara a uma vila pequena e pacata. Ali, pediria ajuda.

Mas assim que ela pisou no lugar, desmaiou, exausta.

Ouvia sons em seu sono, ao longe, ouvia também uma voz. Percebeu que a voz vinha conversando com ela havia um tempo, lembrava de estar sonhando e que ela dizia coisas muito reconfortantes. Deu conta de que estivera dormindo havia dias. A voz vinha durante esse tempo e lhe dizia que estava preocupada com ela, que queria conhecê-la, ouvir seu nome, saber de onde viera. E dizia que estivera procurando durante muito tempo alguém exatamente como ela e queria que ela fosse sua.

Isso a fez despertar lentamente, até que acordou e deparou-se com um homem. Um homem, mesmo, simples. Era um camponês que lhe encontrara na rua, desmaiada, e a levou para sua cabana. Ao ver os olhos da moça abertos, ele sorriu levemente, e explicou-lhe que tratara de seus ferimentos, lhe dera água fresca e comida e ela apenas foi dormir após tudo isso. E estivera dormindo desde então.

Ele ia todas as noites, por uma semana, levar-lhe alguma água ou fazer-lhe beber um pouco de sopa, mas não a acordara. Percebera que ela precisava descansar e esperara pacientemente até que ela recuperasse a saúde.

A moça ficou muito comovida com o que o homem fizera por ele. Seus olhos eram ternos, cativantes, não havia nada de excêntrico ou angelical nele, nem nada tampouco demoníaco. Ele era apenas um homem que vira nela uma bela mulher. E sentiu que era ele quem merecia sua atenção. Que podia ter seu amor.

No mesmo momento, sentiu-se totalmente recuperada, saudável. Sentou-se na cama e lhe disse sem hesitar que seria sua. E seria grata para o resto da vida. Ele a tomou pela mão e os dois foram sentar-se no alpendre, observando a lua e as estrelas entre beijos apaixonados.
Assim, a menina que se tornara moça agora era, de fato, uma mulher, sem acreditar mais em anjos ou ser perseguida por demônios. Vivia apenas sua vida normal, num mundo real, com alguém que tinha amor verdadeiro por ela. 

O camponês que roubou seu coração às vezes passava dias inteiros fora, cuidando da terra, fazendo colheitas; ou meses, viajando para a cidade para garantir o sustento dos dois. Mas ela ia todas as noites sentar-se naquele alpendre, vigiando o horizonte, rezando para que chegasse o dia em que seu amor voltasse para casa. Sem nem lembrar mais que um dia seu coração estivera despedaçado. Ele agora estava novo em folha e batia feliz pelo camponês.

Até a próxima! 

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