Ele era
recém-chegado à escola. Alto, esbelto, de íris azuis e penetrantes e, quando se
aproximou, ela notou que as olheiras escuras tornavam seus olhos iguais à lua
sobre o mar escuro. Frequentara as mesmas aulas que ela naquela semana e estava
sempre onde ela estava. Ela observou cada passo dele, letárgico e pesado. Ela
pensou que devia trazer alguma grande angústia, algum grande... Segredo.
Um estalo.
Era isso. A pele
branca demais zombava daquele lugar ensolarado, os olhos alertas e de uma
beleza singular, apático, misterioso. Estava claro que era um vampiro!
Foi quando ele
lançou aquele azul no castanho dela. Não pode desviar. E ela estava pronta. Preparara-se a vida
inteira para aquele momento: o momento de conhecer seu primeiro namorado
sobrenatural. Assim que o sinal soou, ele foi postar-se ao lado da porta, a
mochila pendendo de um lado, e ela passou uma mão nos cabelos crespos, ajeitou
os óculos e respirou fundo.
- Desculpe, não
quero tomar seu tempo, mas... Você é a Ana, não é?
- Sim, sou a Ana.
- Escute, Ana...
Eu preciso...
- Eu já sei de
tudo – disse, enigmática.
- Sabe?
- Sei.
- Mas...
- Você é vampiro.
E eu, claro, sou a mortal.
- ...?
- Você aí todo
bonitão, com esse ar secreto demais, veio de não sei onde... Ah, e nunca vi
você comendo.
Ele ficou apenas
olhando para ela, parado, e uma sobrancelha começando a pular sobre o olho
direito.
- Você se
apaixonou perdidamente por mim, mas sabe que não poderemos ficar juntos por que
sua condição é perigosa para nós. – ela aproximou-se, pegando as mãos frias
dele, repentinamente –
Mas eu não me importo.
- Ana, o que...
- Vamos enfrentar
isso juntos... Como você se chama mesmo?
- Edgar...
- Eu posso lutar,
Edgar. Eu aceito você como é.
Ele não falava e
ela aceitou seu silêncio como confirmação. Não precisava, aliás; era óbvio que
tinha descoberto sozinha e poupado a ele todo o falatório. Ela ficou olhando
sua expressão preocupada e a cabeça balançando. Estava confuso.
- Ana... Eu não
sei do que você está falando... Não sei mesmo. Só que você não veio à aula
ontem e o professor me colocou como sua dupla no laboratório, então...
- Oh...
- ...E... Vim
avisá-la que devemos levar alguma coisa que queiramos analisar no microscópio.
É isso.
Uma amostra de
sangue, talvez? Sim!
- Claro... – de
repente ela entendeu. – Tudo começou com uma aula no laboratório... – e piscou
para ele, saindo aos saltitos da sala, tentando fazer os cabelos pesados
saltitarem com ela, sem sucesso.
Nem acreditava que isso estava acontecendo!
Finalmente! Finalmente...
Edgar ficou
olhando Ana se afastar, sem entender muito. Bem, sem entender nada. Mas tirando
sua barra de cereais do bolso e abocanhando um pedaço pensou que ela poderia
ser uma garota legal. Se não lesse tantos livros de vampiro.
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