22 de setembro de 2013

Conto - "Sobrenatural"


Ele era recém-chegado à escola. Alto, esbelto, de íris azuis e penetrantes e, quando se aproximou, ela notou que as olheiras escuras tornavam seus olhos iguais à lua sobre o mar escuro. Frequentara as mesmas aulas que ela naquela semana e estava sempre onde ela estava. Ela observou cada passo dele, letárgico e pesado. Ela pensou que devia trazer alguma grande angústia, algum grande... Segredo.

Um estalo.

Era isso. A pele branca demais zombava daquele lugar ensolarado, os olhos alertas e de uma beleza singular, apático, misterioso. Estava claro que era um vampiro!

Foi quando ele lançou aquele azul no castanho dela. Não pode desviar.  E ela estava pronta. Preparara-se a vida inteira para aquele momento: o momento de conhecer seu primeiro namorado sobrenatural. Assim que o sinal soou, ele foi postar-se ao lado da porta, a mochila pendendo de um lado, e ela passou uma mão nos cabelos crespos, ajeitou os óculos e respirou fundo.

- Desculpe, não quero tomar seu tempo, mas... Você é a Ana, não é?
- Sim, sou a Ana.
- Escute, Ana... Eu preciso...
- Eu já sei de tudo – disse, enigmática.
- Sabe?
- Sei.
- Mas...
- Você é vampiro. E eu, claro, sou a mortal.
- ...?
- Você aí todo bonitão, com esse ar secreto demais, veio de não sei onde... Ah, e nunca vi você comendo.

Ele ficou apenas olhando para ela, parado, e uma sobrancelha começando a pular sobre o olho direito.

- Você se apaixonou perdidamente por mim, mas sabe que não poderemos ficar juntos por que sua condição é perigosa para nós. – ela aproximou-se, pegando as mãos frias dele, repentinamente – 
Mas eu não me importo.
- Ana, o que...
- Vamos enfrentar isso juntos... Como você se chama mesmo?
- Edgar...
- Eu posso lutar, Edgar. Eu aceito você como é. 

Ele não falava e ela aceitou seu silêncio como confirmação. Não precisava, aliás; era óbvio que tinha descoberto sozinha e poupado a ele todo o falatório. Ela ficou olhando sua expressão preocupada e a cabeça balançando. Estava confuso.

- Ana... Eu não sei do que você está falando... Não sei mesmo. Só que você não veio à aula ontem e o professor me colocou como sua dupla no laboratório, então...
- Oh...
- ...E... Vim avisá-la que devemos levar alguma coisa que queiramos analisar no microscópio. É isso.
Uma amostra de sangue, talvez? Sim!
- Claro... – de repente ela entendeu. – Tudo começou com uma aula no laboratório... – e piscou para ele, saindo aos saltitos da sala, tentando fazer os cabelos pesados saltitarem com ela, sem sucesso. 

Nem acreditava que isso estava acontecendo! Finalmente! Finalmente...


Edgar ficou olhando Ana se afastar, sem entender muito. Bem, sem entender nada. Mas tirando sua barra de cereais do bolso e abocanhando um pedaço pensou que ela poderia ser uma garota legal. Se não lesse tantos livros de vampiro.

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